colunista do impresso

'Arvorecídio' na Rua do Rosário

style="width: 100%;" data-filename="retriever">

A lógica que entende normal e aceitável o corte de uma fileira de árvores na Rua do Rosário é a mesma que entende ser coisa absolutamente normal o desmatamento na Amazônia ou a dizimação das matas ciliares, com o consequente assoreamento e morte gradual de um sem número de cursos d'água em nosso Estado e no país. Tudo em nome do dinheiro fácil e do "crescimento" econômico. Em síntese, em nome do lucro, que é o móvel impulsionador dos gananciosos argentários, sejam eles urbanos, sejam rurais.

Quem tem um mínimo de consciência crítica em relação ao argentarismo e à ganância, quem se preocupa com a qualidade de vida dos concidadãos, quem vê além do imediatismo da hora presente, enfim, quem tem algum compromisso com a construção de um futuro planetário menos vulnerável à ação humana, não pode se calar diante de acintosas barbaridades como o corte das árvores da Rua do Rosário.

Em algum momento do passado recente, em episódio assemelhado ao atual da Rua do Rosário, comecei uma crônica, assentada na ironia, à qual dei o título de "Eu odeio árvores". A crônica não foi concluída, mas começava assim:

"Eu odeio árvores! Árvores sujam as calçadas com suas folhas que caem, com suas flores que o vento espalha, com seus frutos que se esborracham no chão, quando amadurecem. Além disso, árvores servem de abrigos noturnos para pássaros que emporcalham a cidade com seus cocôs fedorentos; árvores estragam os passeios públicos com suas raízes salientes; árvores tapam o sol, impedindo que o astro-rei se projete sobre todos igualmente; árvores servem de abrigo para vagabundos e bandidos à noite. E na primavera, a alergia que o pólen provoca? Horror! Por mim, teríamos uma cidade asséptica, toda recoberta de cimento e asfalto. No máximo, no máximo, uns pequenos arbustos com folhas perenes, em meia-dúzia de canteiros.

Se tem uma coisa que me dá prazer é cortar árvores. Ah, e vê-las morrer lentamente, secando à míngua? Que sensação! Sou homem da cidade e as cidades são feitas de concreto, de aço, de ferro, de tijolos, não de árvores. O lugar de árvore é nas florestas. E, vá lá, faço uma concessão: nos pátios das casas até admito algumas árvores frutíferas, tipo laranjeira, limoeiro. Nos pátios, repito! E deu pra bola! Um dia, vou ser prefeito da minha cidade para mandar cortar todas as árvores."

No caso presente, o "arvorecídio" não foi perpetrado pela prefeitura municipal, mas, segundo li, pela RGE Sul, empresa concessionária de serviços na área de distribuição de energia elétrica em nosso município, sucedendo a CEEE, adepta, diga-se de passagem, das mesmas técnicas e providências em relação ao corte e/ou poda desfiguradora das escassas árvores de nossas ruas.

Não pode a administração municipal, nem sempre tão zelosa dos controles administrativos de atos ou fatos postos sob sua responsabilidade, evadir-se de rigorosa apuração dos fatos e, se for o caso, punição, no âmbito de sua competência (em outra esfera deve atuar o Ministério Público), de quantos tenham infringido a lei e as normas regulamentares aplicáveis à matéria em questão. É que (quase) todos esperamos.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Testamento de vida Anterior

Testamento de vida

Bolsas sociais e do ProUni em risco Próximo

Bolsas sociais e do ProUni em risco

Colunistas do Impresso